28.1.09

A recta - parte I



A recta parecia interminável. Não gostava de rectas. Faziam-lhe sono e não tinha dormido o suficiente. Começou a pensar se não seria melhor regressar ao hotel e ter uns dias de verdadeiro descanso. Afinal estava de férias. Mas não gostava de torcer o destino. Acreditava nele. Nada lhe tinha corrido bem nas últimas 24 horas para quê insistir em ficar? Além de que aquela ida estava pensada há cerca de um ano. O desvario que tinha feito custara-lhe as poupanças de uma vida e mais uns trocados. Sorriu. Afinal nem sabia o que ia encontrar.


Se pelo menos houvesse um lugar qualquer onde parar para tomar café. Maldita recta. Bem, aquilo tinha de virar em qualquer lado. Sacudiu-se como um cão, a afastar o sono. Não lhe serviu de nada. Parou o carro na berma, abriu a porta e saiu para a chuva. À falta de outro estimulante, o frio da água a cair-lhe na cabeça teria quase o efeito de um duche, de madrugada, em dia de falta de gás.

E teve.

Retomou o caminho até distinguir na neblina criada pela chuva uma bomba de gasolina. Até que enfim! Algum calor a reconfortar o estomago e dois dedos de convesa fiada. Depois regressaria à estrada. Ainda estava longe e o dia prometia continuar cinzento.




foto de Julia Pluim

7 comentários:

  1. Linda a fotografia de entrada no blog.
    Estou cheia de curiosidade

    beijibhos

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  2. gostei! também a mim apanhar chuva desperta.
    noutras situações ajuda-me a acalmar os nervos.
    vou voltar para a parte 2

    abraço
    luísa

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  3. Se não fosse a reta, que seria do círculo?

    De qualquer modo, já inventaram a garrafa térmica, outra comodidade do século; agora motoristas não têm mais o direito de dormir nas auto-estradas e atirar-se de encontro a árvores, animais ou outros motoristas da direção oposta. O que mais vão inventar!

    Bons sonhos na viagem da volta.

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  4. Também volto aqui. A curiosidade só mata o gato.

    della

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  5. Desculpem. Não sei comentar comentários. Só posso agradecer terem passado por aqui. Estou em fase experimental.

    Não sou grande. Lamento. Por vocês. Obrigado.

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  6. Para cumprir a verdade da transcrição de Fernando Pessoa, teria de deixar em branco, este pequeno espaço.
    E parece já disse tudo.
    Abraço

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